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Foto do escritorIan Cândido

A origem das Paralimpíadas

Atualizado: 27 de set. de 2021

A história de como um médico alemão se tornou o “pai das paralimpíadas”.


Foto: Australian Paralympic Committee

A eclosão da Segunda Guerra Mundial colocou o governo britânico em estado de alerta. Diante das várias incertezas nascidas da guerra, uma coisa era certa: o contingente de soldados gravemente feridos seria gigantesco.


A natureza das lesões de guerra já era conhecida. De maneira geral, os soldados voltavam para a Grã-Bretanha após perderem um membro durante uma batalha, ou após sofrerem uma lesão grave na coluna, que os deixava paraplégicos. Por isso, a fim de atender às vítimas dos conflitos, o governo britânico decidiu ampliar a oferta de atendimento especializado em casos de lesões de medula. Em 1943, uma ala dedicada ao tratamento de ex-soldados foi instalada no hospital Stoke Mandeville, localizado em uma pequena vila inglesa que empresta o nome ao hospital. O escolhido para chefiar a nova ala foi o neurologista e neurocirurgião alemão Ludwig Guttman - atualmente conhecido como o pai das paralimpíadas.


Logo no início de seu trabalho, Guttman percebeu que a baixa autoestima e a depressão eram sintomas comuns aos pacientes que chegavam ao hospital, e que estes fenômenos contribuíam para a diminuição brusca da expectativa de vida daqueles homens. Para os ex-soldados, muitos dos quais eram ainda jovens, que não haviam sequer completado 30 anos de idade, a única alternativa oferecida era a de esperar pela morte, confinados em seus leitos enquanto definhavam. Fragilizados, muitos pacientes faleciam poucos meses após darem entrada no hospital.


Estava bem claro que a mera supervisão hospitalar era um esforço que pouco contribuía para o objetivo de recuperar as vítimas da guerra. Era inútil realizar a manutenção rotineira do físico, quando a mente, fragilizada, acelerava a morte. Aqueles homens queriam ter a oportunidade de poder sair dos leitos aos quais estavam confinados. Queriam ter a oportunidade de provar para si próprios, uma vez mais, que ainda eram capazes de realizar feitos que a imposição da enfermidade parecia ter tornado impossível.


Mas, para Guttman, aceitar o impossível e o indesejado e interminável abraço do leito hospitalar não eram, em hipótese alguma, as únicas opções. Experimentando uma forma de terapia completamente diferente, o médico apresentou aos seus pacientes uma espécie de jogo, parecida com o boliche, que consistia no arremesso de uma pesada bola de metal. O objetivo do exercício era treinar e fortalecer os membros superiores, oferecendo, ao mesmo tempo, um tipo de desafio capaz de alimentar a mente. Para além do boliche adaptado, Guttman introduziu outras atividades simples, como o arremesso de dardo e a sinuca. Contratou um preparador físico, que havia atuado nas forças armadas, para literalmente, arremessar bolas contra os seus pacientes e desafiá-los a desviar. Instalou um programa de exercícios, que incluía a musculação e movimentos aeróbicos. Logo, Guttman observou que havia devolvido a seus pacientes aquilo que lhes fora tomado: a possibilidade de se movimentar livremente, incentivados por alguém que não os via como moribundos destinados à morte.


As mudanças implementadas por Guttman apresentaram resultados espetaculares. Um veterano da Primeira Guerra Mundial, que havia sido confinado ao seu leito de hospital por cruéis 26 anos, chegou à enfermaria chefiada por Guttman para experimentar novas cadeiras de rodas, que deveriam contribuir para a sua reabilitação; porém, nem o mais otimista dos observadores poderia prever o que se viu a seguir: seis meses depois, aquele mesmo homem saiu do hospital andando com os próprios pés e o auxílio de uma única muleta. Mas Guttman queria mais. Durante os Jogos Olímpicos de 1948, em Londres, o médico viu a oportunidade perfeita para introduzir competições mais intensas no cotidiano de seus pacientes.


Realizada naquele mesmo ano, a primeira edição dos “Jogos de Stoke Mandeville” contou com 16 pacientes, que competiram em disputas de arco e flecha e basquete em cadeira de rodas. Quatro anos depois, em 1952, os Jogos organizados por Guttman contaram com mais de 130 inscritos, muitos deles vindos de países vizinhos, especialmente da Holanda. Por fim, em 1960, durante os Jogos Olímpicos de Roma, a iniciativa de Guttman estreou um novo nome: Jogos Paralímpicos de Roma. 400 inscritos, oriundos de 23 países, competiram em oito modalidades, algumas das quais permanecem até hoje no programa paralímpico, como o tênis de mesa, o tiro com arco e a natação.


O impacto do grande trabalho de reabilitação física e mental realizado por Guttman pode ser mensurado na fala da lenda paralímpica Tanni Grey Thompson, ganhadora de 16 medalhas paralímpicas entre 1988 e 2004. Em entrevista à BBC, Grey declarou: “Ele (Guttman) acreditava que nós deveríamos viver uma vida normal. E foi persistente num tempo em que as pessoas provavelmente imaginavam que ele fosse um tanto louco por acreditar que portadores de deficiência poderiam ser ativos.”


Sir Ludwig Guttman morreu em 1989, vítima de um infarto. No entanto, o legado deixado pelo médico, não só para o esporte, mas para toda a humanidade, é, de fato, imprescindível para o processo de reinserção de portadores de deficiências no meio social. Ao iniciar o processo de devolver o prazer de viver aos seus pacientes, Guttman provavelmente não imaginava que, 73 anos depois, seus Jogos reuniriam 4.403 atletas, vindos de todas as partes do mundo, para continuar reescrevendo as suas próprias histórias nas Paralimpíadas de Tóquio.

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